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AGRONEGÓCIO

Por que o novo governo Trump interessa tanto ao agro brasileiro

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Alguns segmentos do agro brasileiro parecem animados com um possível efeito positivo do governo Trump sobre as vendas do Brasil ao mercado americano — Foto: Michael Reynolds-Pool/Getty Images

Exportações e importações de produtos agropecuários cresceram no primeiro mandato do presidente americano, mas alguns segmentos perderam espaço

Donald Trump assumiu nesta segunda-feira (20/1) a presidência dos Estados Unidos pela segunda vez. Ele começa o novo mandato com a promessa de, assim como no primeiro, priorizar o que, na visão dele, são os interesses de empresas, trabalhadores e governo americanos, fazendo isso em detrimento, se necessário, de acordos internacionais que já estão em vigor. Essa política – “patriótica”, segundo a definição de Trump; protecionista, como descrevem opositores e também manuais de relações internacionais — inclui o comércio de produtos agropecuários, uma frente que muito interessa ao Brasil.

Alguns segmentos do agro brasileiro parecem animados com um possível efeito positivo do governo Trump sobre as vendas do Brasil ao mercado americano. Em parte, esse aparente otimismo tem relação com o aumento das exportações de produtos agropecuários aos EUA durante o primeiro mandato do presidente americano. Nos quatro anos do primeiro governo Trump, de janeiro de 2017 a janeiro de 2021, o volume dos embarques cresceu 32,3%, para 7,7 milhões de toneladas, segundo o Agrostat, o sistema do Ministério da Agricultura que reúne estatísticas de comércio exterior do agro nacional. A receita com as vendas aos EUA, por sua vez, aumentou 11,3%, a US$ 6,9 bilhões em 2020 — Joe Biden assumiu a presidência em janeiro do ano seguinte.

Em grande medida, o aparente efeito positivo do governo Trump sobre o agro brasileiro tem relação com as sobretaxas que os Estados Unidos passaram a cobrar sobre produtos chineses a partir de 2018. Essa decisão levou a China a responder com aumento de tarifas sobre produtos americanos, entre eles a soja, o que acelerou as vendas brasileiras do grão — o principal item de exportação do agro brasileiro — ao mercado chinês. Em 2020, o Brasil embarcou 60,8 milhões de toneladas de soja para a China, um volume 56,7% maior do que o de quatro anos antes.

O segmento de produtos florestais, que inclui papel e celulose, é o que mais rende divisas ao agro brasileiro nas exportações aos EUA: ele responde, sozinho, por cerca de 40% das receitas do Brasil nos embarques ao mercado americano. Durante o primeiro governo Trump, o volume das exportações desses itens aos Estados Unidos cresceu 36,3%, para 4,6 milhões de toneladas, e a receita, 30%, para US$ 2,7 bilhões.

O desempenho foi positivo para o agro nacional, o que não significa que o fenômeno vá necessariamente se repetir no segundo governo de Donald Trump. “Esse clima mais protecionista pode gerar oportunidades para o universo agro nacional, por exemplo, no mercado chinês (…) Todavia, não é razoável descartar que alguns produtos agropecuários que o Brasil exporta para os EUA também sejam alvo de [aumento de] barreiras tarifárias, como produtos florestais (principalmente, papel e celulose) e proteínas de origem animal”, escreveram, em artigo recente, os pesquisadores Felippe Serigatti e Roberta Possamai, do Centro de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas (FGV Agro), e André Diz, professor do MBA em gestão do agronegócio da instituição.

O volume das exportações de café, o segundo item que mais gera divisas ao Brasil nas vendas aos EUA, cresceu 20,6% durante o primeiro mandato de Trump, para 448,2 mil toneladas. Já a receita com os embarques cresceu menos de 1%, chegando a US$ 1,03 bilhão, segundo o Agrostat.

O mercado de sucos foi um dos que perderam espaço nos EUA durante o primeiro mandato de Trump. O volume dos embarques caiu 5% nesse intervalo, para 566,5 mil toneladas, e a receita quase 30%, para US$ 324,8 milhões. O declínio dos embarques de lácteos foi ainda mais forte: o volume caiu 44%, para 2,3 mil toneladas.

Não se pode dizer que o aumento dos embarques de itens como café e produtos florestais tenha sido resultado de eventual primazia ao Brasil durante a primeira era Trump. As exportações de café, por exemplo, a despeito das oscilações naturais que ocorrem nas lavouras — o grão alterna colheitas de alta e baixa produtividade a cada dois anos —, nunca mais ficaram abaixo de 300 mil toneladas desde que ultrapassaram essa faixa pela primeira vez, em 2009. Já na era Biden, as vendas só ficaram abaixo de 400 mil toneladas no ano de 2023. No ano passado, os embarques alcançaram 471,5 mil toneladas, o maior volume da história.

Fonte: Globo Rural

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AGRONEGÓCIO

Um ano após enchente, produtora de arroz do RS colhe bem, mas preço desanima

Ester Vargas, de Mostardas, diz que a produção de 31 mil sacas, que possui denominação geográfica (DO), não paga as contas

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No ano passado, Ester Vargas, produtora de arroz em Mostardas (RS), viveu o desespero de perder toda sua produção com as enchentes que atingiram o Estado. Neste ano, seu desespero tem outro nome: os preços baixos do grão não bancam o custo de produção.

“Em 2024, nossa fazenda foi a única da região atingida pela enchente porque fica na beira da lagoa. Agora, colhemos uma safra muito boa, mas o preço da saca a R$ 75 força a gente a repensar a lavoura”, diz Ester, cuja família é tradicional no cultivo de arroz, mas cria também ovelhas, gado de corte e cavalos crioulos na Granja Roça Velha, de 970 hectares.

Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a colheita desta safra deve chegar a 12,1 milhões de toneladas, um volume 14,8% maior do que o do ciclo anterior, mas o custo de produção subiu e o preço da saca caiu quase 40% em 12 meses.

Ester Vargas, de Mostardas (RS), é uma das produtoras que têm o único selo de Denominação de Origem (DO) concedido para o arroz — Foto: Eliane Silva/Globo Rural

Ester plantou neste ano 150 quadras de arroz, o equivalente a 261 hectares, e diz que nem vendendo toda a produção de 31 mil sacos de 50 kg conseguirá pagar as contas.

A família Vargas integra a Associação dos Produtores de Arroz do Litoral Norte Gaúcho (Aproarroz). Ela é uma das produtoras que têm o único selo de Denominação de Origem (DO) concedido para o arroz pelo Instituto Nacional da Propriedade Privada (Inpi).

Desde 2010, produtores de 12 municípios do litoral gaúcho, numa faixa de 250 km cercada pela Lagoa dos Patos e pelo mar, comercializam o grão certificado e rastreado por meio da Cooperativa Arrozeira Palmares.

Mesmo com o selo da DO, que garante a qualidade e maior percentual de grãos inteiros do arroz produzido na região, o preço de comercialização é o mesmo do arroz sem certificação, diferentemente da maioria dos produtos com indicação de procedência. Uma estimativa do Sebrae aponta que os produtos com origem certificada como o queijo da Canastra ou o café da Mantiqueira alcançam até 300% de valorização no mercado.

Amostras do arroz de Palmares foram apresentadas em evento em Gramado (RS) — Foto: Divulgação

Durante o Connection Terroirs do Brasil, evento realizado em Gramado de 28 a 31 de maio com o setor das IGs (produtos com Indicações Geográficas), Ester e outros integrantes da DO distribuíram no estande da Alameda dos Terroirs, na Rua Coberta, informações e amostras do arroz de Palmares, que também foi usado em pratos especiais na Arena Gastronômica.

*A jornalista viajou a convite do Connection Terroirs do Brasil

Fonte : Por Eliane Silva — Gramado (RS)

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